Introdução
O presente estudo tem por objetivo analisar a inclusão de uma aluna cadeirante nas aulas práticas de Educação Física numa Escola Municipal na cidade de Ipatinga, Minas Gerais. De acordo com Gimenez, as possibilidades e desafios relativos à inclusão atravessam pela própria privação do entendimento acerca das definições de integração e inclusão, sendo a integração descrita por contato mais físico enquanto a inclusão visa garantir a participação da pessoa na convivência em grupo.
Metodologia
A população do estudo foi composta por uma aluna cadeirante do oitavo ano do ensino fundamental, uma professora de Educação Física e os vinte e oito colegas dessa classe da referida escola, com idade variando entre 13 a 17 anos, sendo 14 alunos do sexo masculino e 15 do sexo feminino.
Relato de caso
A estudante M.L., na qual baseia o presente relato de caso é uma adolescente cadeirante e tem treze anos, com dignóstico de mielomeningocele.
Segundo a fala da mãe de M. L.,
“Sua locomoção é realizada através de cadeira de rodas, fazendo a transição da cadeira para o sofá, carro, poltrona do cinema, cadeira de banho, com facilidade.
Ela começou as sessões de fisioterapia com quatro meses de vida e tem indicação para fazê-las até os dias de hoje, porém, parou a quase um ano de realizar as sessões, por não ter alguém para levá-la, mas, já está sendo providenciado o seu retorno.
A M. L. faz aula de teclado e técnica vocal, toca violão e flauta doce, está aperfeiçoando no acordeon. Ela consegue fazer sua higiene pessoal sozinha passando da cadeira de rodas para a cadeira de banho. Participa de um grupo de adolescentes que canta na igreja. Parece muito madura para sua idade em relação a vários assuntos, mas a família não deixa passar a fase da infância que foi vivida. Sempre que possível levamos-a para passear no shopping, cinema, em outras igrejas para cantar e fazer apresentação com o sexteto. Na vida da M. L. é imposto limites pela família que todo adolescente necessita, mas, contudo ela tem todo nosso amor e carinho, sendo significamente importante nas nossas vidas”.
Resultados e discussões
Conforme o estudo realizado, a aluna cadeirante não pratica nenhuma atividade física no momento, participando somente das atividades teóricas em sala de aula e dos jogos de mesa demonstrando dificuldade em participar das aulas práticas de Educação Física.
No ambiente escolar, a aluna necessita sempre de ajuda para locomover-se no espaço interno, uma vez que a escola não possui uma adequação na estrutura física.
Em relação de como eles veem uma pessoa deficiente na sua classe 82% dos colegas responderam ser normal e 18% demonstraram não achar normal. Foram questionados se tem alguma dificuldade em participar das aulas de Educação Física com a colega cadeirante e 71% disseram não ter dificuldade, enquanto que 29% demonstraram dificuldade em participar das aulas. Já quanto à necessidade de um profissional para auxiliar a colega deficiente durante as aulas práticas, 36% acharam que tem necessidade desse profissional e 64% acham que não tem nenhuma necessidade. 96,5% dos colegas de classe manifestaram não ter dificuldade quanto a aprendizagem com a presença da aluna deficiente durante as aulas de Educação Física, enquanto que 3,5% disseram apresentar dificuldade. Em relação a rejeição da aluna cadeirante na turma, 100% dos colegas não apresentaram rejeição, o que demonstra uma boa aceitação da aluna deficiente e também 100% dos colegas demonstraram tratar a colega deficiente com carinho, cuidado e de forma normal. Ao serem questionados se ajudam a sua colega deficiente quando necessário, 75,5% dos colegas responderam que sim e 24,5% responderam que não.
O resultado deixa evidente em todos os questionamentos que a aluna é bem aceita por todos. Segundo Strapasson e Carniel, além dos inúmeros benefícios e vantagens proporcionados pela Educação Física, ela ainda facilita o processo de integração, socialização, inclusão e aceitação do aluno deficiente ao grupo. Fala também que devem ser enfatizados durante as aulas o respeito, a paciência, a compreensão e a colaboração com o aluno deficiente, pois somente quando cultivados tais valores, há o desenvolvimento de atitudes dignas diante das diferenças. Construindo assim uma convivência solidária, respeitando a limitação de cada um e oportunizando a participação e desenvolvimento das potencialidades do colega deficiente. Para o autor é preciso oportunizar aos alunos sem deficiência a vivenciar os obstáculos e dificuldades enfrentadas no dia a dia pelo indivíduo deficiente consolidando assim o respeito e o valor em relação ao mesmo.
Considerações finais
O presente estudo demonstrou que aparentemente ocorre boa aceitação da aluna cadeirante com os alunos da classe. Porém, de acordo com a pesquisa realizada, observou-se uma desmotivação e desinteresse por parte a aluna cadeirante em relação a participação durante as aulas práticas, ficando a mesma focada na realização de jogos de mesa. Isso é um dos motivos que dificulta a professora a desenvolver ações pedagógicas voltadas para o atendimento da aluna e inclui-la ao grupo.
Observou-se que a professora esbarra com a falta de cooperação por parte dos colegas de classe, que apesar de apresentar resultado favorável de inclusão da colega cadeirante através da pesquisa, a mesma não ocorre verdadeiramente, pois os alunos apresentam resistência em participar das atividades adaptadas, deixando transparecer insatisfação quando é feita tal proposta. Portanto, observa-se também que ocorre uma incoerência entre a visão de inclusão dos alunos e da professora. Os professores de Educação Física precisam apoderar-se do conhecimento com autonomia, quebrando paradigmas, partindo do referencial do que sabem os alunos, sendo o mesmo mediador responsável pela interação entre aluno deficiente e colegas de classe.
Há uma necessidade nítida de conscientização de todos os envolvidos para que ocorra a verdadeira inclusão dos indivíduos deficientes e quanto mais cedo iniciar o processo de conscientização, maior e melhor será o resultado, isto é, mais consistente e consequentemente mais eficaz.