Introdução
Discussões relacionadas à saúde têm sido ampliadas, onde comportamentos e hábitos passaram a ser vistos como potenciais fatores de riscos. Dentre estes, podemos destacar o sono, que representa cerca de um terço do tempo de vida de uma pessoa, sendo que sua privação e má qualidade tem um impacto negativo na saúde e no desempenho diário.
Na adolescência por ser um período em que ocorre uma variedade de conflitos psicossociais, decorrentes das intensas alterações físicas, psicológicas e sociais, é possível compreender o fato de noites mal dormidas e um sono com duração aquém das necessidades serem comuns nessa população. Assim, estima-se que mais de 30% das crianças e adolescentes no mundo apresentam transtornos do sono que, de alguma forma, vão afetar o tempo gasto na cama.
Havendo uma prevalência, onde grande parte dos adolescentes dorme em torno de 7 horas por noite, aproximadamente uma hora a menos do que sua necessidade estimada de sono. Tal redução do sono dos adolescentes estaria vinculada ao aumento das demandas sociais, à inserção no mundo do trabalho, às atividades escolares, às mudanças hormonais que alteram o ritmo circadiano, e ao uso excessivo de equipamentos eletrônicos.
Diante disso objetivou-se neste estudo investigar a qualidade do sono em escolares do ensino médio da cidade de Mossoró/RN.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal e o grupo amostral selecionado de forma não probabilística, intencional foi constituído por 180 escolares de ambos os sexos (Fem.=99, Masc.=81), com faixa etária entre 15 a 22 anos, regularmente matriculada no ensino médio de uma escola pública em Mossoró, no Estado do Rio Grande do Norte, localizada no Nordeste brasileiro.
Os comportamentos relacionados ao sono foram coletados por meio do questionário traduzido e validado para o português do Brasil do Pittsburgh Sleep Quality Index (Índice de qualidade de sono de Pittsburgh), com questões sobre os hábitos de sono referentes ao mês anterior em que o individuo se encontra. Os itens deste questionário são agrupados em sete componentes: Qualidade subjetiva, latência, duração, eficiência habitual e distúrbios do sono. O conjunto de componentes totaliza uma pontuação que varia de 0 a 21, onde os escores maior ou igual a 5 classifica a qualidade do sono como ruim.
Para análise dos dados utilizou o programa SPSS 20.0 versão em português. A normalidade dos testes foi verificada através do teste Kolmogorov-Smirnov, com o nível de confiança de 95%, com p<0,05. O teste Qui-quadrado foi usado para quantificar as prevalências das variáveis categóricas em percentuais.
Resultados
Com relação à latência do sono, 48% dos escolares levaram cerca de 15 minutos ou menos para adormecer no último mês, enquanto que 34% levaram em torno de 16 - 30 minutos. Na questão de impossibilidade para adormecer em até 30 minutos 33% afirmaram não ter nenhuma impossibilidade durante o último mês e 22% apresentaram ter impossibilidade de adormecer três vezes na semana.
Quanto à da duração do sono dos escolares, 49% da amostra conseguiu alcançar um valor superior a sete horas de sono por dia durante o ultimo mês; 25% localizaram-se um pouco abaixo desse valor, no intervalo compreendido entre seis e sete horas, sendo importante ressaltar que 11% dormem menos de cinco horas diárias.
No que diz respeito à qualidade subjetiva do sono do último mês, 56% (n=100) dos escolares, foram classificados como tendo uma qualidade de sono boa; e 44% (n=80) uma qualidade de sono ruim.
Discussão
Com relação à latência do sono, estudo realizado com escolares do ensino médio na faixa etária entre 15 a 19 anos, constatou que 56 % dos escolares demoraram 16 a 30 minutos para adormecerem durante o ultimo mês, apresentando sonolência diurna moderada (46%) e indisposição (76%) para desenvolver as atividades, sendo semelhantes aos nossos resultados.
Ao analisar a duração de tempo para adormecer durante o último mês de escolares com idade média de 13±0,8 anos, um estudo na cidade de Uruguaiana- RS demonstrou que os estudantes demoram em média 20±15,08 minutos para pegar no sono, contrariando os resultados apresentados no nosso estudo, sendo justificado onde o número de horas de sono de um indivíduo, assim como seu padrão, varia progressivamente com o decorrer da vida, mostrando queda total de sono até o final da adolescência.
Confirmando estes achados, pesquisas constataram que escolares na faixa etária de 13 anos apresentaram uma média de horas dormidas também de 7 horas, o que corrobora com nossos achados tendo a maioria dos escolares referido dormir esse período de tempo.
No estudo Rocha, & Reimão, com 274 escolares na faixa etária entre 16 a 19 anos, encontrou uma duração de sono entre 6 – 7 horas por dia, configurando como bons indicadores, igualmente aos dados achados neste estudo.
Com relação à qualidade do sono, pesquisas estão de acordo com nosso estudo quando relata, em sua amostra de escolares entre 18 e 19 anos, um valor relativo de 59% (n=118) da amostra, apresentando qualidade do sono boa e 41% (n=82), uma qualidade do sono ruim.
Resultados semelhantes aos nossos estudos também foram encontrados por Ferreira & Ceolim, ao analisarem estudantes do ensino médio portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV), onde 53% da amostra apresentaram qualidade do sono boa, já 47% qualidade do sono ruim.
No entanto, outro estudo Sung et al. diferem dos nossos ao verificar a ocorrência de distúrbios do sono de escolares do ensino médio na faixa etária entre 16 a 19 anos, onde 71% (n=378) revelaram má qualidade de sono e 29% (n=151) apresentaram qualidade do sono boa.
Conclusão
Podemos concluir que os escolares apresentaram resultados satisfatórios em relação à qualidade do sono. Sugere-se que novas pesquisas sobre a qualidade do sono em escolares sejam realizadas com a utilização de instrumentos que possam monitorar de forma sucinta a qualidade do sono, proporcionando ganhos para a memória, assim como para o processo de aprendizagem, contribuindo para um bom desempenho escolar.