Introdução
O exercício da música passa a impressão de harmonia entre o ser humano e o instrumento tocado. Porém acima dos fatores prazerosos a música requer esforço, concentração, processamento multissensorial e memória, exigindo um empenho excepcional referente à flexibilidade, coordenação e motricidade fina. O músico é exposto a uma carga abrangente, que consequentemente pode causar alterações a saúde, devido aos efeitos que determinado instrumento exerce na dinâmica corporal.
A atitude do músico em relação ao estudo do piano cria hábitos que podem contribuir para o início de problemas físicos, como: falta de aquecimento, tempo de estudo prolongado, pouco ou nenhum intervalo, dedilhados complexos praticados em excesso e falta de atividades compensatórias.
Muitos conservatórios não se preocupam com a postura ideal ao desenvolver as habilidades dos pianistas, proporcionando o aumento da incidência de queixas dolorosas nesta população, desta forma a Escala Visual Analógica é um instrumento simples, sensível e reprodutível, que permite análise contínua da dor, consiste em uma linha reta, não numerada, indicando-se em uma extremidade a marcação de “ausência de dor’ e na outra, “pior dor imaginável”.
Objetivo
Material e métodos
Participaram do estudo 15 pianistas, de ambos os gêneros, com tempo de prática superior a 3 anos e cinco horas semanais de prática.
O desenvolvimento da avaliação ocorreu após um dia de prática extensa no piano, de forma que os participantes foram questionados sobre o valor da dor nos parâmetros da Escala Visual Analógica (EVA), atribuindo-se assim uma nota após atividade ao piano. Esta nota foi determinada entre duas variáveis (0 = sem dor e 10 = dor extrema), por consequência também foram determinados o local de ocorrência da dor, lateralidade e dominância, caracterizando assim os aspectos de mensuração avaliados na EVA.
Resultados
Após a aplicação do questionário foi possível observar na Tabela os resultados referentes à dominância, lado da dor, local de dor (ponto específico) e EVA (após prática extensa).
Os resultados indicam que a maioria dos pianistas avaliados têm dominância à direita, não sendo um fator predominante para a dor, pois esta se manteve bilateral na maioria dos casos e maior à esquerda em quatro dos músicos. Entretanto, considerando-se que o membro superior esquerdo faz a base musical com acordes ou seguindo a clave de fá, pode ser mais exigido em posição estática em relação ao membro superior direito, a depender da música executada.
Na avaliaçao de dor subjetiva à sensação do indivíduo após um período de prática extensa, foi verificado o predomíno bilateral de dor nos extensores de punho apresentando uma média de 9 pontos na escala EVA, este fato pode ter relação com a posição a qual a maioria dos pianistas adotam na prática, sendo errôneo manter em posição estática a extensão de punho, pois na ação pianística o correto é manter o punho em neutro. Três pianistas relataram dor em face flexora de punho, mais especificamente no local de passagem do túnel do carpo, podendo ter relação com a compressão do nervo mediano. Apenas um pianista relatou dor em polegar sendo maior do lado esquerdo, este achado pode ser decorrente do fato do indivíduo ter a mão pequena e pouco alongada para efetuar o trabalho de base musical, sendo necessário algum preparo. Um pianista relatou ter dor no 4º e 5º dedos bilateral, devido à fragilidade destes dedos em relação aos outros, considerando a mecânica pesada do piano.
Discussão
Alguns autores presumem que menor força muscular e menor amplitude de movimento podem ter influência na causa de dor, podendo ainda acrescentar como fator de risco o tensionamento muscular causado pela pressão e expectativa com o trabalho. Segundo Wristen, as dores no membro superior podem ser causadas por distribuição incorreta de trabalho entre os músculos e o equilíbrio postural na execução do movimento.
Muitos métodos de instrumentos de teclado oferecem recomendações quanto ao posicionamento das mãos e do corpo na execução musical, recomendações estas apenas baseadas em intuições e observações, sem qualquer base científica, porém atualmente existem métodos que condizem com a melhor forma de execução da técnica e controle postural, determinando que a posição ideal é manter os punhos em posição neutra, articular bem os dedos e prepara-los com alongamentos e exercícios no próprio piano, de forma que é importante observar estas normas para evitar descondicionamento e consequentemente dor.
Entre alguns pesquisadores há uma concordância quanto aos movimentos mais adequados para a ação pianística, referindo-se a movimentos curvos com participação de todos os segmentos do membro superior e com um mínimo possível de fixações musculares, quando os padrões são contrários a estes a performance é dificultada e torna-se fonte de lesões. Os pianistas com o decorrer do tempo adquirem falsetes que facilitam a música à sua habilidade e não o contrário. Sendo assim, para amenizar os riscos de dor, períodos prolongados de prática devem ser divididos em pequenas seções advindas de intervalos.
Os intervalos visam a recuperação física dos tecidos que estão sobrecarregados, podendo tornar os músculos resistentes e capazes de efetuar maior trabalho. Durante as pausas podem ser inclusos exercícios de alongamentos da musculatura exigida na performance como um todo.
Conclusão
Conclui-se, portanto, que os pianistas apresentaram um predomínio de dor bilateral para os extensores de punho devido à posição incorreta adotada ao executar as notas musicais, desta forma é necessário o aperfeiçoamento do movimento e melhor preparo físico específico ao efetuar as notas musicais de maneira equilibrada e sem intercorrências. Há necessidade de realização de novos estudos sobre o tema abordado com intuito de conscientização da postura e prevenção de quadros álgicos.