Às suas marcas...
O atletismo para as pessoas com deficiência visual (cegos e com baixa visão) segue a mesma lógica do esporte convencional. No entanto suas regras são alteradas somente para possibilitar a participação das pessoas que não recebem ou recebem de maneira muito limitada as informações visuais.
Devemos desenvolver uma proposta pedagógica para as pessoas com deficiências visuais onde a sustentação inclua a troca de significados.
É preciso pensar o Homem como um ser que sofre influências diversas e complexas do meio. Esta lógica ajuda na construção de uma intervenção pedagógica baseada na diversidade. As respostas ocorrem de modo a sempre adequar o sujeito da melhor maneira na busca de sua autonomia seja ela biológica, psicológica, física ou social.
Pronto...
A X Conferência Internacional de Classificação de Deficiências em 1993 apresenta duas classes dentro da deficiência visual: a cegueira e a baixa visão.
A classificação esportiva é dividida em três grupos funcionais: B-1 é aquele considerado cego; B-2 aquele que possui resíduo visual, tendo um campo visual de até 5 graus e/ou acuidade visual de até 2/60 metros ou 20/400 pés; já o B-3 é aquele que tem campo visual variando de 5 à 20 graus e/ou acuidade visual entre 2/60 metros ou 20/400 pés à 6/60 metros ou 20/200 pés. Sendo que esta capacidade visual é aquela obtida no olho de melhor correção, após cirurgia e com o uso corretivo de lentes.
Vai...
A aprendizagem da pessoa com deficiência visual no atletismo deve respeitar a individualidade do aprendiz, partindo do conhecimento e das incapacidades sensoriais do aluno.
O primeiro passo para uma aula de corrida é o reconhecimento do espaço, tanto para o aluno cego quanto para o de baixa visão. É fundamental conhecer as dimensões (largura e comprimento) do local, percebendo os obstáculos, se houverem, e reconhecendo referências que possam auxiliar na orientação espacial (sons, cheiros ou luz em determinados pontos). Assim é possível criar, o mapa mental do ambiente, diminuindo o medo do imprevisto. Toda vez que tiver alguma alteração do meio é muito importante que aluno saiba desta mudança.
Para correr, o aluno poderá estar acompanhado de um guia, que irá orientar o corredor em seu deslocamento. O guia poderá correr ao lado do aluno e ligado a este por uma corda entre as mãos, ou mão e braço ou ainda segurando na camisa do corredor cego. Nunca poderá puxar, empurrar ou lançar o atleta à frente, estas ações prejudicam o desenvolvimento motor do iniciante, exceto quando, durante o início da aprendizagem, tais ações são caracterizadas por um comando que traga proteção aos alunos. Com o aluno de baixa visão o guia pode correr, também, ao lado dando informações verbais, além da tátil.
Os exercícios que indicam maior eficiência para deslocamentos em corridas podem ser os mesmos encontrados nos livros e manuais de atletismo. Para adaptação dos deslocamentos pretendidos devemos incluir idéias de como se pensar nas informações a serem dadas dentro da lógica tátil ou sonora, fornecendo assim recursos que favoreçam o entendimento das pessoas cegas, e para as pessoas com baixa visão devemos ainda fornecer alguns recursos visual, com adaptações de cores em alto contraste, além dos estímulos sonoros e táteis.
Os arremessos e lançamentos
Para um bom desempenho esportivo, a orientação espacial, assim como o desenvolvimento de capacidade e habilidades físicas, tal como o equilíbrio, são essenciais, já que o aluno deverá realizar um lançamento de dardo sem ultrapassar o limite do setor de arremessos e em seguida deve sair deste sem o auxílio do guia e dominando a estabilidade do próprio corpo.
Os exercícios de orientação espacial e de lançamento serão direcionados pelas informações verbais explicativas e sinaléticas. Para isso, pode-se combinar diferentes informações em um mesmo exercício, pensando no nível de complexidade das informações e no repertório motor do indivíduo. Assim, quanto maior e bem direcionados forem os números de informações, maior será a possibilidade de desenvolvimento motor adequado frente as situações exigidas, pois o contrario pode indicar níveis baixos de adaptação do aluno frente as atividades solicitadas apresentando-se muito complexas e revelarem que uma informação sonora ou tátil utilizada de maneira inadequada terão pouco efeito naquele momento do aprendizado.
Saltos
A fase de corrida nos saltos deve passar pelo mesmo processo pedagógico das corridas e arremessos (orientação espacial e dinâmica de deslocamento). As dificuldades mais comuns acontecem no treinamento para a "chamada" (passo que antecede o salto), enquanto que na fase aérea do salto, tais problema relacionados com o nível de aprendizagem são minimizados, pois a questão da orientação espacial não influi mais de maneira tão intensa, já que não se pode mudar a trajetória do deslocamento.
A chamada é um elemento de precisão que depende de refinamento técnico gerado pela repetição e entendimento do exercício. A distância para a chamada deve ser treinada e estabelecida nos treinos. Apesar da área de impulsão oficial no salto em distância e no triplo, para o B1 e B2, ser ampliada para 1x1,2 metro (salto real), o aluno precisa ter o referencial espacial muito bem estabelecido, já que o atleta tem que correr na direção certa e ainda acertar a distância da tábua. Independente da ajuda de um chamador, esta ação é de muita complexidade em sua execução.
E o vencedor é...
O objetivo maior de uma proposta pedagógica é possibilitar ao aprendiz a condição de exercer sua cidadania, tendo capacidade de gerar autonomia e não ser exclusivamente dependente de outras pessoas em todas as suas ações. Poucos dos nossos alunos serão atletas de alta performance, mas todos poderão carregar pelo resto da vida a bagagem aprendida no esporte. Este é o papel de estudos que abordem questões relacionadas ao ensino-aprendizagem, assim buscamos trazer neste texto algumas questões pedagógicas ao professor e que deverão permear estas com valores e condições que favoreçam o aprendizado do seu aluno de maneira global.