Introdução
A obesidade é um desequilíbrio crônico entre a ingesta e perda de energia e é uma patologia multifatorial envolvendo complexas interações da genética e de fatores externos.
A regulação dos depósitos de gordura dependem da ingesta e do gasto energético, estando sujeito a influências ambientais, metabólicas, nervosas, endócrinas e genéticas.
Cinco genes tem sido identificados como possíveis causadores da obesidade em ratos e também em seu homólogo humano. Dentre esses cinco genes focaremos a atenção sobre o gene ob, a qual codifica uma proteína chamada de leptina.
A leptina leva informações para o Sistema Nervoso Central refletindo nos status de depósitos de gordura corporal. Esse hormônio está diretamente e indiretamente ligado a regulação do peso corporal e indicam sinais de nutrição para o organismo, mas pouco se sabe sobre seu gene humano.
O objetivo do presente trabalho, através de um levantamento bibliográfico, foi o de abordar a caracterização, produção, síntese, regulação, atividade física, obesidade e perspectivas futuras na utilização da leptina.
Caracterização da leptina
Seu nome procede do termo grego "leptos" que significa magro, porque este mostrou ser capaz de diminuir o peso corporal e a massa de tecido adiposo quando injetado em camundongos. A molécula dessa pequena proteína consiste em 167 aminoácidos e é regulada por um gene que nos ratos se denomina ob. O gene da leptina humana se encontra no cromossoma 7, região 7q31.3.
O gene ob em humanos é conhecido parcialmente. Em sujeitos obesos é encontrado uma expressão aumentada de RNAm da leptina, que era 80% mais alta em obesos que em seu grupo de controle.
Tecidos produtores, síntese e regulação da leptina
A leptina é um hormônio que regula a ingestão alimentar e o metabolismo sistêmico.
Esse hormônio é produzido pelas células adiposas brancas que, uma vez na corrente sangüínea interage com receptores próprios em vários centros hipotalâmicos.
Recentemente foi demonstrado que esse hormônio também é secretado e sintetizado na placenta e no líquido amniótico e que existe leptina no leite materno.
Ocorre uma diminuição de leptina em resposta a baixos níveis de insulina, havendo uma relação diretamente proporcional entre as concentrações desses hormônios.
Atividade física e níveis de leptina
Com respeito a atividade física pouco se sabe ainda sobre seus efeitos nos níveis plasmáticos de leptina. Estudos que examinam os efeitos das sessões de exercícios e leptina plasmática tem encontrado resultados conflitantes.
Dirlewanger et al. não acharam queda na concentração de leptina plasmática em resposta ao exercício moderado realizado durante um período de três dias. Em outro estudo Perusse et al. mediram a leptina plasmática antes, depois de 10-12 minutos de cicloergometría a 50 W, e imediatamente depois de alcançar o esforço máximo. Os autores não acharam diferenças na leptina plasmática comparada com a linha de base.
Em contrapartida Essig et al. encontraram uma redução de 30% na leptina, 48 horas depois do exercício. Tuominen et al. encontraram 34% de diminuição da leptina sérica, 44 horas depois de um período de 02 horas de exercício realizado a 75% do VO2máx.
É provável que as concentrações de leptina plasmática sejam reduzidas nos dias posteriores das sessões de exercícios, levando a crer que o exercício pode amenizar os níveis desse hormônio.
Leptina e sua relação com a obesidade
A descoberta da leptina como um hormônio regulador do peso corporal possibilita encontrar soluções e favorecer as pessoas que tem dificuldade em perda de peso, já que ela leva informações sobre a quantidade de energia armazenada em forma de gordura para o cérebro (sinalizando a saciedade) e também determina mudanças no comportamento alimentar e gasto energético. Para Campfield et al., animais obesos ou com peso normal que recebem leptina comem menos, têm maior gasto calórico basal e perdem peso.
Entretanto vários estudos têm demonstrado que pessoas obesas se encontram com um nível elevado de concentração sérica de leptina e que a falha está no seu receptor para o hipotálamo.
Considine et al. desenvolveu trabalhos investigando a hipótese de que a obesidade possa resultar de uma diminuição da sensibilidade do organismo aos efeitos da leptina. Estudos genéticos têm mostrado que sujeitos obesos não apresentam modificações genéticas frente a sujeitos magros e que esses não tem déficit de leptina, e que, ao contrário, seus níveis plasmáticos são elevados em proporção direta ao tecido adiposo e ao balanço energético. Isso sugere que os adipócitos funcionam normalmente, e a obesidade se associaria a um mecanismo de resistência endógena à leptina.
O tecido adiposo secreta a proteína "ob" (leptina) que circula pelo sangue, alcançando através da barreira hematoencefálica, o núcleo ventromedial (NVM) do hipotálamo. A leptina precisa de um receptor específico que é codificado pelo gen "db". Como conseqüência a esta união o neuropeptídeo Y (NPY) no "núcleo arqueado" é estimulado, o que leva a supressão do apetite e a liberação da secreção de norepinefrina, a partir das terminações do sistema nervoso simpático.
Perspectivas futuras da leptina
A descoberta da leptina e seu crescente desenvolvimento abre novas perspectivas no campo terapêutico da obesidade. Um grande número de estudos mostram o interesse em conhecer sua fisiologia e sua potencial participação na gênese de diversas enfermidades como obesidade, anorexia nervosa, transtornos da puberdade, entre outros, abrindo expectativas futuras para o tratamento dessas alterações.
Acredita-se que desvelando o mecanismo leptina-receptor e das transformações intracelulares responsáveis pela reprodução do efeito desejado no sistema fisiológico, seguramente se poderá dispor de armas eficazes para o tratamento da obesidade.
Entretanto, a complexidade dos mecanismos que intervém a obesidade, e em particular, o próprio sistema leptina, dificultam a investigação sobre o tema, sendo prematura qualquer consideração sobre sua utilização atual na prática clínica.