Introdução
Paulo Freire relata algumas qualidades exigidas ao educador no ato de ensinar. Dentre elas, está a necessidade do docente reconhecer-se também enquanto pesquisador de seus alunos e de suas realidades – seus mundos – trazidas consigo à sala de aula (ou pátio, ou quadra). O professor pesquisador seria aquele que consegue estabelecer o diálogo entre o conteúdo trabalhado e a realidade educacional presente, concreta com que se defronta e que é trazida á tona por seus alunos (educandos). Tal qualidade do professor está relacionada com sua capacidade de compreender a forma como o educando compreende e significa seu mundo, podendo auxiliá-lo no processo de (re)inserção crítica deste educando em seu mundo (já problematizado durante as aulas).
Com base em alguns conceitos do pensamento de Paulo Freire, iremos propor uma estratégia investigativa, partindo da utilização das mídias e seus recursos, que possibilite ao professor de Educação Física a abertura ao diálogo com seus alunos (educandos), melhor compreendendo seus mundos e possibilitando o ensino significativo e crítico, porque contextualizado.
A busca pelo diálogo no ato educativo
É por meio do diálogo que o educador poderá compreender o mundo do educando, a forma como ele interpreta sua própria inserção neste mundo e, interessado no ensino crítico e emancipador, poderá realizar as conexões entre o conteúdo que deseja trabalhar e a realidade dos educandos que se apresenta nas aulas.
É através do diálogo que o professor pesquisador poderá vir a conhecer o mundo de seus educandos e a partir daí, propor aproximações e problematizações no conteúdo a ser trabalhado. A forma como pode ser estimulado este diálogo exige uma postura diferenciada por parte do educador e meios de acesso a este mundo do educando, que deve mostrar-se a partir de si mesmo, pelo próprio interesse do educando em integrar-se no ato educativo.
Considerações sobre a construção do método de acesso ao mundo que propomos
O que iremos aqui sugerir como estratégia metodológica de acesso ao mundo dos educandos constituiu a parte empírica da pesquisa de mestrado e foi aplicada com alunos de duas escolas municipais de São José (SC) entre o 4º e 7º ano e utilizamos algumas ferramentas tradicionalmente relacionadas à mídia-educação no sentido da produção midiática, tais como fotos, elaboração e edição de vídeos.
Achamos necessário utilizarmos diferentes estratégias para melhor conhecermos os “mundos” dos alunos pesquisados e resolvemos manter as entrevistas, que foram realizadas em sua forma tradicional, com os pais e/ou responsáveis pelos alunos que pesquisamos. Para isso, fomos nas residências dos alunos pesquisados com a finalidade de conhecer mais de perto a realidade, o mundo, de cada um deles.
Propusemos então um método para acessar este mundo mais próximo aos sujeitos (alunos) por meio dos procedimentos midiáticos, que dividimos em duas etapas: a primeira constituída da tomada das fotos pelos alunos e a segunda, onde elaboramos um roteiro a partir das fotos tiradas e confeccionamos um filme ficcional (pesquisador e alunos).
A proposição do método e sua discussão para utilização na escola
A primeira etapa da produção midiática constituiu-se inicialmente pela tomada de fotos pelo sujeito-aluno de seu cotidiano. Para isso, foi disponibilizada uma câmera fotográfica do modelo descartável (com filme de 27 poses em cada máquina), para cada um dos alunos-sujeitos, acompanhada da seguinte orientação básica: “- Como é o seu dia-dia? Mostre com as fotos!”, complementada por “-O que você gosta e o que você não gosta no seu dia-dia?”. Instruções foram dadas para o correto manuseio das máquinas. Depois de terminadas as poses dos filmes de cada máquina, procedemos à revelação destes e posteriormente entregamos as fotos reveladas a cada sujeito-aluno para que pudessem significar, ou seja, explicar o motivo pelo qual tiraram aquela foto, o que desejaram mostrar com aquela foto?
A segunda etapa dos procedimentos para acesso ao mundo dos alunos que utilizamos foi realizada com base nas fotos já tiradas anteriormente pelos alunos. Cada aluno pesquisado escolheu algumas fotos que havia tirado na etapa anterior e propusemos então a construção conjunta de um filme no formato de uma história de ficção. Por meio de uma narração realizada pelo próprio aluno, este filme trataria da descrição de um dia na vida deles: seja como um “super-herói”, ou “em um futuro longínquo”, ou mesmo imaginando-se quando fosse adulto, por exemplo. A partir destas fotos então, criamos juntos os roteiros com as histórias que seriam contadas nos filmes de cada sujeito-aluno.
O processo de edição dos vídeos pelos alunos pode ser enriquecido ainda com a utilização de fotos, músicas, figuras, pequenas animações e filmes extraídos da internet pelos alunos, sugerindo assim uma maior possibilidade expressiva e criativa por parte destes na confecção de seus filmes. Em nossa pesquisa de mestrado realizamos o filme na forma da narração das cenas, a partir do roteiro elaborado, ocorrendo os efeitos sonoros ou visuais conforme a história que ia sendo contada pelo próprio aluno (gravada digitalmente e transferida como arquivo áudio ao programa de edição de vídeos, o que possibilitou inserir a narração no filme); porém, outras formas podem ser encontradas pelos alunos, ou elaboradas pelo professor (ou dialogicamente construídas por ambos), seja sem narração, no estilo de um filme sem áudio, evidenciando a força das imagens que “falam por si”, por exemplo. Cabe aí ao professor decidir conforme o contexto em que trabalhe e os objetivos educacionais que planeje alcançar com esta atividade.
Finalizando
Buscamos oferecer ao professor de Educação Física formas de utilização dos recursos midiáticos no sentido produtivo, para que este possa melhor entender o “mundo” de seus alunos, sendo tal entendimento necessário ao estabelecimento de um ensino dialógico, significativo e emancipador conforme o pensamento de Freire.