Introdução
A dengue é a doença que mais tem se espalhado rapidamente pelo mundo quando comparada a outras doenças virais. Estima-se que 50 milhões de infecções ocorrem anualmente.
A partir dos anos 1970, a dengue se tornou um problema de saúde pública gerando graves epidemias no mundo, em especial nas regiões tropicais das Américas e da Ásia. Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai foram responsáveis, no período de 2001 a 2007, por 2.798.601 (64,6%) dos casos notificados de dengue nas Américas. Desses, 6.733 foram de dengue hemorrágica com um total de 500 óbitos. O Brasil foi responsável por 98,5% dos casos notificados e pelo maior número de óbitos.
Diante deste cenário é de extrema importância a descrição das características epidemiológicas da dengue no Brasil no período de 2004-2013. Pois a partir da descrição dessas características será possível realizar um planejamento de ações para o controle da doença de acordo com os dados de cada região.
Metodologia
Cenário de estudo
O estudo foi realizado no Brasil, maior país da América Latina, possui uma área geográfica de 8.515.692,272 km2 e uma população formada por 190.732.694 de pessoas (IBGE, 2010). É composto por 27 unidades federativas, sendo 26 estados e um distrito federal distribuídas em cinco regiões: Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Coleta e análise de dados
Trata-se de um estudo retrospectivo, de abordagem quantitativa e descritiva, baseado em informações enviadas pelos municípios do Brasil para o Ministério da Saúde através do Sistema de Informação de Agravos e Notificação – SINANNET.
Resultados
No Brasil, no período de 2004 a 2013, foram registradas 5.847.423 notificações de dengue de acordo com as informações do Ministério da Saúde. Neste período analisado, houve um aumento de 1.995,5% nos casos de dengue no país.
As regiões com a maior parte dos casos notificados foram Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. De um total de 5.847.423 notificações de dengue no Brasil no período estudado, a maior parte foi notificada na região Sudeste com 2.829.148 casos, alcançando um percentual de 48,4%, seguida da região Nordeste com 1.370.011 (23,4%), depois a região Centro-Oeste com 946.269 (16,2%). A região Norte notificou 515.529 (8,8%) e a região Sul 186.466 (3,2%) dos casos.
Foi registrado no Brasil um total de 6.962 óbitos por dengue no período estudado, a região Sudeste foi responsável por 2.692 (38,66%) e a região Nordeste apresentou 2.216 (31,82%) dos óbitos.
A maior incidência de dengue registrada no Brasil foi no ano 2013 (731,5/100.000 habitantes).
Durante o período estudado foram registradas epidemias de dengue no Brasil de 2010 a 2013 uma vez que o número de casos ultrapassou 300/100.000 habitantes.
Discussão
Muitos fatores contribuíram para as epidemias de dengue nos países tropicais e subtropicais, principalmente, a disseminação do Aedes Aegypti como o crescimento demográfico desordenado, aumento dos resíduos não-orgânicos e resistência do vetor.
Em 2002 foi observada uma maior quantidade de casos notificados da dengue reflexo da introdução do sorotipo 3 e em 2004 foi identificado em 23 dos 27 estados do país a circulação simultânea dos sorotipos 1, 2 e 3. Este dado confirma o aumento de casos e óbitos do presente estudo no período de 2004 a 2006.
Em 2008 o Brasil vivenciou um dos piores cenários da doença em relação ao total de internações e óbitos e essas epidemias em diversos estados se caracterizaram por atingir as crianças de forma grave que representaram mais de 50% dos pacientes internados nos municípios com maior contingente populacional.
No Brasil foram adotadas medidas para reduzir o número de óbitos por dengue como treinamento dos profissionais de saúde, organização dos serviços durante as epidemias e o desenvolvimento de campanhas para informar a população sobre a doença, com o objetivo de um diagnóstico precoce e tratamento da dengue hemorrágica.
Em 2013 o Brasil vivenciou o maior surto de dengue, foram 1.470.487 casos notificados e 60 óbitos. Embora uma das características dessa doença sejam os picos epidêmicos anuais com diferentes intensidades normalmente com períodos de três a cinco anos, neste estudo observou-se 4 epidemias em anos consecutivos, fato que pode estar relacionado à reintrodução de sorotipo não circulante, falta de efetividade das medidas de controle do vetor, bem como falta de motivação da população em contribuir para eliminação dos focos do mosquito e o crescimento desordenado das cidades.
Em relação à incidência, desde o ano 2005 o Centro-Oeste apresenta as maiores taxas regionais. A região Centro-Oeste apresenta um grande número de casos de dengue, sendo endêmica em 18 municípios (13%) de Mato Grosso, um dos Estados mais afetados do país. A alta taxa de incidência nesta região já foi demonstrada no estudo realizado por Maciel et al, no qual foi relatado incremento superior a 80% na incidência entre 2006 e 2007.
A amplitude e a gravidade da dengue no Brasil e em outros países tropicais e as dificuldades enfrentadas para o controle da doença sinalizam a necessidade de investimentos em pesquisas orientadas para a redução da letalidade e desenvolvimento de novas tecnologias para o controle vetorial.
Conclusão
Os dados demonstraram grande quantidade de casos notificados e óbitos a cada ano apesar da implantação de medidas de controle. Maior atenção deve ser dada às regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste devido ao maior número de casos, óbitos e incidência.
A incidência de dengue está relacionada com boas condições climáticas para o desenvolvimento do mosquito e ações insuficientes de controle vetorial. Além disso, a ocorrência de novos sorotipos gera epidemias, além de casos graves e óbitos possivelmente devido à falta de imunidade na população, infecções seqüenciais e fatores de riscos individuais.
Os levantamentos epidemiológicos sobre a dengue podem subsidiar processos de planejamento, gestão e avaliação de políticas e ações de saúde direcionadas ao controle da transmissão vetorial.
Sendo assim, há a necessidade de constante vigilância por parte das autoridades de saúde com o intuito de controlar a doença reduzindo a morbidade e mortalidade no Brasil.