Discussões sobre a importância da interdisciplinaridade fomentam a união de áreas, o que permite o surgimento de novos conhecimentos. A área das Ciências Biológicas recebe contribuição e contribui sensivelmente com outras áreas como: Sociologia, Antropologia, Direito, Estudos de Cultura, Lingüística, Matemática, Física, História, Geografia etc..
Charles Darwin já se referiu ao fato que a evolução de aspectos culturais e das espécies ocorre paralela e gradualmente. Trabalhos que utilizam a metodologia cladística na análise da classificação de línguas, fazendo uso de caracteres fonológicos e morfológicos datam de desde o fim da década de 1930 até recentemente. Estudos que analisam analogias entre aspectos culturais como a lingüística e processos fundamentais de evolução apresentam resultados significativos. Como as línguas, as danças são resultado de processos culturais que envolvem desde a genética dos indivíduos até eventos ambientais.
Richard Dawkins também apresenta comparações entre as unidades replicáveis de conhecimento, que denominou de memes, e os genes. Nesta ótica, cada dança é composta por um pool memético, ou seja, um conjunto de memes. Da mesma forma que as espécies estão sujeitas à seleção natural, as expressões culturais, dentre elas as danças, estão sujeitas à seleção social. Os processos de extinção e de surgimento de novas espécies ou danças têm similaridades que permitem o uso de metodologias semelhantes para estudo. Como as linhagens biológicas se dividem e podem ser representadas por árvores genealógicas, as danças também o fazem. Na literatura encontra-se até mesmo diagrama indicando a gênese e as aplicações contemporâneas da dança.
Em relação à dança de salão, é reconhecido um padrão evolutivo puramente cultural. Todas as espécies atuais têm um único ancestral comum. Retrocedendo ao passado podemos perceber que todas as danças de salão atuais, possivelmente, tiveram uma única como origem. Esta dança original, para qual se propõe a denominação de protodança, transformou-se nas atuais, por meio de misturas com outras danças e de modificações que ocorreram e foram replicadas. A transmissão das danças (memes) ocorre de geração a geração, sendo que a palavra “geração”, neste caso, significa um período no tempo em que as danças ocorrem mantendo determinadas características.
A idéia da árvore para representação das relações de parentesco foi introduzida por Schleicher em 1861. Desta forma, entende-se que é possível propor o estudo da estrutura evolucionária das danças na forma de uma árvore. Um grande desafio atual para este estudo é o processo de miscigenação horizontal que vem ocorrendo devido à globalização. As danças disseminam-se em regiões onde existem outras danças, promovendo misturas e reformulações.
Existem documentos sobre a história das danças de salão que nos permitem produzir árvores genealógicas. É importante que estas sejam produzidas e comparadas em estudos posteriores para o aprofundamento do conhecimento na área. O aprimoramento deste estudo pode ser feito pelo uso da cladística. Esta é a técnica de análise do processo evolutivo que se baseia na descoberta das relações filogenéticas, analisando o que se chama de caracteres ancestrais (“primitivos”) comparativamente aos caracteres derivados. Para o uso deste método no estudo das danças de salão, é preciso inicialmente elencar características das danças de salão para posteriormente determinar quais são primitivas e quais são derivadas, o que permite a construção do cladograma.
O objetivo deste trabalho é propor, com base em um autor, uma árvore genealógica para demonstrar as relações históricas entre as danças de salão e identificar características desta arte que permitam iniciar uma lista para discussão e futura aplicação na construção de cladogramas. Assim, procedeu-se o estudo das relações históricas das danças a partir do livro “Samba de Gafieira - a história da dança de salão brasileira", de Marco Antônio Perna, resultando na produção do diagrama da imagem.
O presente trabalho permitiu a produção de uma árvore genealógica demonstrativa das relações históricas entre as danças de salão com base em um autor, o que demonstra que podem ser produzidas outras árvores partindo de outras fontes para aprofundamento de estudos futuros.
A proposição inicial de características (primitivas e derivadas) visando futuro uso por meio de técnicas de cladística deve ser ampliada para produção de cladogramas.
A produção de árvores genealógicas e cladogramas demonstrativos das relações históricas entre as danças de salão configuram contribuições para solidificação de um conhecimento histórico mais definido.