O longa-metragem Murderball – Paixão e glória (2005), dirigido por Henry Alex Rubin e Dana Adam Shapiro, é um documentário que aborda a trajetória da equipe estadunidense de rúgbi em cadeira de rodas, ou simplesmente quad-rugby – originalmente batizado de Murderball, o que motivara o título da referida obra –, rumo às paralimpíadas de Atenas (2004).
A peculiaridade do título já torna a obra, minimamente curiosa, e, certamente, singular. Em uma tradução literal, o que se pode esperar de um esporte chamado “Bola assassina” ou, de maneira abrasileirada, “Assassinobol”?
Por meio do agrupamento de elementos oriundos de distintas modalidades esportivas, como o rúgbi, basquetebol, handebol e hóquei no gelo, o longa-metragem vem a apresentar, de forma elementar, o rúgbi em cadeira de rodas, que é praticado por pessoas com os mais variados graus de deficiência física.
Paralelamente, é acompanhada a trajetória de Joe Soares, ex-jogador da seleção norte americana de rúgbi de cadeira de rodas e medalhista de ouro na modalidade nas paralimpíadas de Atlanta (1996), que, inconformado por ter se sido cortado da seleção logo após o evento, mudou-se para o Canadá para ocupar o cargo de técnico da seleção canadense, passando a avocar a figura de um traidor, ao passo que levara consigo as estratégias adversárias, e por conseguinte, acirrando a rivalidade entre as equipes dos Estados Unidos da América e Canadá.
A história de diversos atletas é exposta, de forma a explicitar suas respectivas adversidades e limitações, mas, ao mesmo tempo, sua independência e potencialidades. Em momento algum se atribui aos protagonistas o estereótipo marasmático de pessoas menos capazes, mas sim, é ressaltada a sua virilidade e o propósito de seguir adiante.
O documentário retrata, ainda, a luta de Keith Cavill, um jovem recém acidentado que, letargicamente, tenta retomar à vida após o trauma, enxergando no esporte, uma possibilidade de reinserção na vida cotidiana.
Ora engraçado, ora comovente, segue-se alternando o ritmo da trama, intercalando momentos de humor e sensibilização, em uma trajetória não linear no tocante à paraplegia, desmistificando incoerências tomadas como verdades pelo senso comum, por meio da articulação a um caráter educativo, mas sem perder o foco da proposta e/ou caminhar para monotonia. Em um desfecho clássico de metragens baseados em fatos reais, o destino pós-filmagem dos protagonistas é revelado.
Distante de um conto de fadas, o documentário Muderball – Paixão e glória traz ao público, por meio de um linguajar simples e compreensível, histórias reais e idiossincráticas de superação e luta. Transita desde a consagração do triunfo ao amargo sabor dos revezes, sem utilizar da dramaturgia para expor o real intento proposto pela obra. A censura de 14 anos imposta é devida à utilização eventual de vocabulário chulo e uma passagem que envolve cenas de erotismo. É, certamente, um título recomendado para o público adulto e juvenil, não restringindo-se apenas aos amantes do esporte.