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Estudios Sociales

03.07.2015
Brazil
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Empoderamento e ação feminina no hóquei de grama da Argentina

O hóquei na América Latina vêm adquirindo visibilidade graças à equipe Las Leonas, que possui um histórico de vitórias internacionais
Las Leonas

Notas introdutórias para uma história narrativa das atletas

As Teorias Feministas que surgem no universo desportivo questionam a evidência da naturalização das mulheres que atreladas ao biológico, foram excluídas de atividades consideradas masculinas. A fragilidade, a docilidade, a submissão e a vulnerabilidade são atributos nada próximos daqueles exigidos no universo dos esportes, efetivamente, não aparecem na trajetória histórica e no momento atual do esporte masculino, mas estiveram e continuam presentes nas práticas discursivas, que imprimem modelos a-históricos para as mulheres atletas.

No quadro brasileiro, as novas idéias suscitam duas questões importantes quando pensamos como são mostradas as mulheres atletas no cenário nacional. No país do futebol quem são as nossas craques? Porque não possuem a mesma visibilidade e salário que os homens? As duas questões emergem da perspectiva epistemológica fornecida pelos feminismos contemporâneos. Com este texto objetivamos problematizar as questões referentes a um esporte pouco divulgado no Brasil, porém prestigiado em nossa “hermana” vizinha argentina: o hóquei de grama.

 

As alemãs diziam: “temos que ganhar das leoas”. As leoas diziam: “temos que ganhar o mundial”

O hóquei na América Latina vem adquirindo visibilidade graças à equipe Las Leonas, que possui um histórico de vitórias internacionais, que as coloca à frente das melhores seleções do mundo.

No texto Las Leonas: once años de protagonismo, os autores recuperam parte da história dessa equipe e lançam a tese segundo a qual Las Leonas são líderes de um protagonismo social, entendido aqui como estratégia política que objetiva subverter a ordem dominada pelo masculino. O aparato conceitual feminista propõe uma mudança paradigmática para dar conta de novas perspectivas para a corporeidade feminina, pensando as atletas como fortes e determinadas, com destrezas e habilidades impensadas no limiar do século XX.

Os noticiários da Argentina são um exemplo dessa conquista ao relatar a semifinal contra a Alemanha, realizada dia 09 de setembro de 2010. Antes do jogo a mídia esportiva local preocupou-se em saber o que pensavam as atletas de ambos os times. Nas falas, o resultado do jogo já podia ser inferido, pois enquanto as alemãs diziam: “temos que ganhar das Leonas Argentinas”, as leoas argentinas tinham uma meta muito além das expectativas das adversárias: “temos que ser campeãs mundiais”. Após um jogo tenso veio o resultado desse trabalho: 2 X 1 para Las Leonas, e o melhor, a garantia de vaga para a final contra Holanda no dia 11 de setembro de 2010.

 

Diversidade nos esportes, desconstruindo o mito da feminilidade

A idéia de feminilidade assombrou e num certo sentido continua a assombrar os esportes olímpicos e não olímpicos. A imagem da mulher submissa, frágil e mesmo, passiva foi trabalhada pelos poderes médicos, jurídicos e psiquiátricos ancorados no discurso científico. A “naturalização” das mulheres vinculadas à procriação levou a medicina desportiva a postular, por longos anos, que o treinamento desportivo e os exercícios físicos para mulheres, sobretudo nos esportes de força e de confronto, deveriam exigir moderação. Com o pretexto de preservar a saúde das mulheres, tais propostas formulam e consolidam uma tradição discursiva sobre a “natureza específica” da mulher, localizando no corpo feminino as causas da interdição.

Feminilidade e masculinidade são palavras que carregam demandas e expectativas sociais, tanto em comportamentos corriqueiros quanto na presença ou ausência de mulheres em algumas modalidades desportivas. Votre pergunta sobre os mecanismos culturais de reprodução na configuração discursiva do homem e da mulher. Em sua revisão da contribuição de James Mangan para os estudos na área ele encontra uma pista nas associações entre masculinidade e violência, diz:

Os imperativos sexuais, o militarismo e a mitologia da masculinidade, segundo James Mangan, foram realidades construídas. Mangan concebe o esporte como uma forma de desenvolvimento da agressão no homem e na mulher. Na Inglaterra imperial, o esporte foi crucial na socialização e na agressão em relação à masculinidade. Agressividade masculina e feminina cooperavam no sentido de formar o homem, que era construído como instrumento de guerra.

 

Narrativas da mídia desportiva: construindo novos caminhos para o empoderamento feminino nos esportes

A Argentina já havia fracassado nas competições internacionais do basquete e do futebol feminino, mas teve fôlego para fazer uma grande festa com a presença das Leonas nas finais de hóquei mundial.

E quanto às atletas brasileiras? Onde estão? O que fazem? Existem campeonatos internacionais dos quais elas participam? A próxima batalha das atletas é com relação à visibilidade na mídia, pois a mesma promove os esportes enquanto espetáculo público. Com a presença marcante na mídia as mulheres atletas ampliam suas possibilidades de patrocínio diminuindo assim a dificuldade pela qual passam os pequenos clubes para investirem nas atletas. O exemplo das Leonas é fundamental para incentivar os esportes femininos nas escolas, clubes e academias.

 

Considerações finais: rumo ao empoderamento feminino nos esportes

A seleção da Argentina venceu a Holanda por 3 X 1 e conquistou pela segunda vez o Mundial feminino de hóquei sobre a grama. Cerca de 12 mil pessoas acompanharam a final no estádio em Rosário.

Notamos a crescente participação das mulheres, tanto em número de atletas como de modalidades, porém, mudanças urgentes precisam ocorrer em relação às barreiras culturais, econômicas, políticas e religiosas que, estão atuantes e, impedem que mulheres adotem a prática esportiva como parte de suas vidas. Além disso, elas ainda estão longe de assumir posições de comando na mídia, administração e treinamento do esporte. É praticamente insignificante, a presença das mulheres nesses contextos.

A maior beleza é a do corpo livre, desinibido em seu jeito próprio de ser, gracioso porque o ser humano é gracioso quando não vive oprimido e com medo. As políticas afirmativas para as atletas estão na ordem do dia é preciso sensibilidade e coragem para trabalhar em prol da visibilidade e empoderamento feminino, lutando, no caso do Brasil em especial, contra o mito da feminilidade que tem sido usado para excluir mulheres que estão fora do padrão hegemônico de beleza e sensualidade.

Sebastião Votre
Patricia Lessa
Sandra Bellas de Romariz
Caroline Picoli
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