Introdução
Os jogos tradicionais são actividades recreativo-culturais praticadas por crianças, jovens e adultos que se perpetuam ao longo de gerações pela oralidade, observação e imitação. Estes jogos mostram a expressão graciosa da alma popular e tradicional que se traduz na necessidade do lazer.
Por seu lado, os jogos tradicionais constituem um legado que preserva as tradições dos povos. Este património lúdico e cultural tem elevada função formativa em contexto educativo, podendo ser utilizado para desenvolver as habilidades motoras fundamentais no 1º Ciclo do Ensino Básico.
Além disso, a importância social, cultural e patrimonial dos jogos tradicionais está bem expressa na Lei de Bases da Actividade Física e Desportiva, designadamente no artigo 30º, onde se reconhecem: “Os jogos tradicionais, como parte integrante do património cultural específico das diversas regiões do País”.
Face ao exposto, o objectivo principal deste estudo é verificar se os professores do 1º Ciclo do Ensino Básico (1º CEB) leccionam ou dinamizam os jogos tradicionais (JT). Complementarmente, pretende-se averiguar se estes docentes têm conhecimento que os JT integram o programa do 1º CEB, bem como, se consideram importante a sua leccionação ou dinamização no contexto das sessões de Expressão e Educação Físico-Motora.
Metodologia
A amostra foi constituída por 5 professores do sexo feminino e 8 do sexo masculino (n=13), apresentando 50 ± 3.1 anos de idade e 19 ± 1.1 anos de tempo de serviço. Estes docentes leccionavam na escola do 1º CEB de Arganil no ano lectivo – 2010/2011.
Utilizou-se como metodologia de recolha de dados o questionário validado por Dias e Mendes.
O questionário foi aplicado presencialmente, seguindo-se a inserção de dados e posterior tratamento estatístico com recurso a estatística descritiva.
Resultados
Os dados mostram que 62% dos professores leccionam ou dinamizam os jogos tradicionais no 1º CEB.
Os dados indicam que 54% dos professores leccionam ou dinamizam os jogos tradicionais maioritariamente em ocasiões festivas.
Os dados indicam que 92% dos professores articula jogos tradicionais com as sessões de Educação e Expressão Físico-Motora (EEFM).
Os dados mostram que 46% dos docentes inclui os jogos tradicionais nas suas aulas e 46% dos mesmos não adopta o mesmo procedimento.
Os dados demonstram que 73% dos docentes tem conhecimento que os jogos tradicionais estão contemplados no programa de EEFM do 1º CEB.
Os dados indicam que 85% dos professores não articula os jogos tradicionais com outras áreas curriculares do programa do 1º CEB.
Discussão e conclusão
Constata-se que os docentes consideram importante a dinamização e leccionação destes jogos em contexto educativo, usando-os maioritariamente em ocasiões festivas e tendo o recreio da escola como local privilegiado de prática motora.
Em contraste com o estudo desenvolvido por Dias & Mendes, este trabalho demonstra que 73% dos docentes tem conhecimento que os jogos tradicionais estão contemplados no programa do 1º CEB. Tal pode dever-se ao facto dos professores dinamizarem aulas de EEFM, o que presumivelmente os conduz a um conhecimento mais profundo das matérias e conteúdos programáticos a leccionar.
Outro elemento que merece futura análise é a constatação da maioria dos professores não articular os jogos tradicionais com outras áreas curriculares do programa do 1º CEB. No caso, ainda que o nível de articulação pedagógica seja baixo, o facto de os professores assumirem que identificam estes jogos no programa de EEFM, potencia a sua utilização em contexto lectivo não formal fora do âmbito destas sessões.
Finalmente, constata-se que metade dos docentes que constitui a amostra contempla os jogos tradicionais nas suas aulas, articulando os mesmos com as sessões de Educação e Expressão Físico-Motora, o que também contrapõe a tendência geral do estudo de Dias e Mendes.
Perante o exposto, conclui-se que os jogos tradicionais desempenham um papel fundamental no desenvolvimento psicomotor da criança e representam um meio privilegiado de iniciação desportiva no 1º CEB.
Recomenda-se a investigação desta temática com recurso a estudos que englobem uma amostra mais numerosa e abrangente. Para tal, sugere-se a replicação deste trabalho ou outros com características similares em meio rural e urbano, comparando os resultados obtidos de forma a alcançar conclusões mais sustentadas.