Introdução
Durante muitos anos a arte circense encanta o mundo com seus espetáculos que exibem habilidades diversas de seus artistas, como o contorcionismo, equilibrismo, ilusionismo dentre outros. Para compreender o fenômeno "circo" do século XXI, proponho, em um primeiro momento, fazer uma breve revisão histórica compreendendo suas diversas expressões como manifestação cultural. A seguir, procuro compreender o surgimento das escolas de circo no Brasil e seus significados no âmbito do lazer. Proponho entender, nesse sentido, a importância que locais como esse tem para vivências de lazer na cidade.
Um olhar histórico sobre o Circo
Do picadeiro ao palco
O cavaleiro inglês Philip Astley, considerado por alguns historiadores circenses como o pai do circo "moderno", montou a primeira estrutura de circo com picadeiro, espaço com tablado circular delimitado por lonas cercado por arquibancadas proporcionando a visão dos espetáculos e do público ao redor. Astley foi inovador quando começou a incorporar os saltimbancos, acrobatas, cavaleiros e palhaços em uma só apresentação tornando-se esta a base do circo moderno. Em 1770 inicia a cobrança de ingressos do público para assistir a esses grandes espetáculos.
Após a estréia desse tipo de espetáculo Charles Hughes também cavaleiro criou uma das primeiras companhias de espetáculos do mundo em1780 que se chamou Royal Circus, e pela primeira vez esse tipo de espetáculo e espaço aparecia com o nome de "circo". O sucesso de sua companhia foi responsável por esse nome ficar popular e ser conhecido até os dias de hoje.
No final do século XIX e meados do século XX em toda a Europa o cavalo ocupava um lugar central nas apresentações circenses, sendo chamados então "circos de cavalinhos", e em sua maioria os números hípicos é que davam valia à apresentação da companhia circense.
Outra atração dos circos no século XIX eram as feras, animais considerados não amestrados ou domados como os leões, ursos e serpentes utilizadas no circo como um atrativo para o público, e na maioria das vezes, apenas sua exibição já era suficiente para um público curioso que nunca tivera oportunidade de ver tais animais.
A presença de mágicos ilusionistas e malabaristas também marcava os números circenses da época.
A gargalhada deu vida a um dos principais personagens que sustentam a comicidade circense: o palhaço, "esse fazedor de graça que é tão antigo quanto o tempo, e quanto à própria arte circense". Os primeiros palhaços italianos se vestiam de espantalhos, utilizando palha dentro da roupa para amortecer as quedas, daí a designação dada a esse artista. O palhaço foi considerado símbolo do circo do século XIX, pois através de suas roupas espalhafatosas, das atitudes atrapalhadas, da inversão de coisas e partes do corpo ele fazia a platéia rir, assumindo assim, o riso, um caráter festivo.
Alguns historiadores alegam que o circo chegou ao Brasil antes de 1800 e para outros foi entre 1820-1830, mas foi somente em 1834 que temos o registro da chegada de um circo formalmente organizado, o de Giuseppe Chiarini.
Do palco à escola
A partir de 1910 o circense instala, junto com o picadeiro, um palco para encenar dramas: é o teatro no circo. Até então, os circenses encenavam sketchs e comédias. A aprendizagem dos textos destas encenações seguia a regra, era feita por meio da transmissão oral: de seus próprios familiares ou através de imitação do teatro e do cinema ou mesmo por meio de trocas dentro do próprio "mundo circense". Mas o teatro no circo introduz definitivamente a linguagem escrita no circo-família.
No Brasil, a partir de 1830, registra-se a presença de várias famílias circenses européias, muitas chegaram como saltimbancos, trazendo a "tradição" da transmissão oral dos seus saberes.
A partir de 1930-40 começam a aparecer as primeiras escolas especializadas na formação de artistas e consequentemente o modelo clássico de circo sofre mudanças. A descentralização do conhecimento marca a mudança, já que, até esse momento o conhecimento era mantido no interior da lona, em "posse" da família, transmitido de geração em geração.
O aparecimento da escola proporciona um maior intercâmbio de conhecimentos, uma diversificação das modalidades, dos estilos, e fundamentalmente concretiza um conhecimento mais sistemático, organizado e talvez científico. As escolas foram se transformando em centros de intercâmbio da cultura circense e a modernidade facilitou a disseminação do conhecimento mais rapidamente.
Podemos considerar que a linguagem do circo foi se adaptando aos novos valores da sociedade, às expectativas técnicas e principalmente estéticas (visuais) deste momento histórico, mas isso não foi suficiente para eliminar o modelo "tradicional" de circo, o qual ainda é presente na maioria dos "Circos" do Brasil, Europa e mundo.
O circo contemporâneo como alguns historiadores o chamam apresentam um modelo que prospera atualmente sendo chamado de circo do homem por envolver somente a figura humana nas performances, excluindo a participação de animais.
A linguagem oral e transmissão de saberes através de uma escola é uma representação das transformações que o circo vem vivendo. Uma escola de circo que se torna cenário da realidade de muitos sujeitos é aqui estudada como uma possibilidade de lazer que educa para a cultura e para a independência na escolha de atividades de lazer.
Considerações finais
O circo é um espetáculo cultural permanente. Ele continua, ainda que com profundas transformações, encantando multidões. Independente das transformações que sofreu durante sua trajetória a história do circo nos diz que a cultura circense atravessou décadas e aparece nos dia de hoje com uma nova roupagem apresentando espetáculos de beleza e desafios como antigamente.
A escola de circo, além de cumprir o papel social de transmissão da arte circense e de educação informal, aparece no cenário atual como tempo e espaço de diversão e desenvolvimento pessoal. Cada vez mais as pessoas buscam na atividade de circo um momento de lazer. A escola proporciona aos alunos a vivência da atividade física, o contato com uma nova cultura, a participação em espetáculos possibilitando vivências diferenciadas nos momentos de lazer dos sujeitos.