Introdução
De acordo com a Portaria SAS/MS nº 400 de 16 de novembro de 2009 do Ministério da Saúde, as estomias intestinais “são intervenções cirúrgicas realizadas tanto no cólon (intestino grosso) como no intestino delgado e consiste na exteriorização de um segmento intestinal, através da parede abdominal, criando assim uma abertura artificial para a saída do conteúdo fecal”.
Esse estudo foi realizado tendo em vista a dificuldade do autocuidado em pacientes que já estão em tratamento devido alguma patologia no intestino e que no decorrer do tratamento passaram por um procedimento cirúrgico para a implantação de um estoma que pode ser de caráter temporário ou definitivo.
Os objetivos deste trabalho foram: Verificar as dificuldades de adaptação e autocuidado de pacientes com estoma após alta hospitalar; Analisar os tipos de complicações relacionados ao estoma; Verificar se tiveram ou não orientações sobre cuidado e apoio psicológico, após o tratamento, pois se acredita que pacientes estomizados tendem a desenvolver depressão, devido à dificuldade de adaptação após a cirurgia e à falta de orientações suficientes a respeito do procedimento e dos cuidados após alta hospitalar, por falta de competência do profissional responsável como o enfermeiro estomaterapeuta. E analisar os fatores de dificuldade no processo de adaptação.
Metodologia
Foi realizada uma pesquisa de campo de caráter quanti-qualitativo e exploratório. A pesquisa foi realizada na Sociedade Civil Nossa Senhora Aparecida - Poliambulatório de Feridas no município de Foz do Iguaçu - PR. Participaram deste estudo 25 pacientes adultos, portadores de estomas intestinais (colostomia e ileostomia), cadastrados no programa de estomizados do poliambulatório.
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário elaborado pelos autores composto por perguntas abertas e fechadas.
Resultados e discussões
A amostra deste estudo foi composta por 25 pessoas portadoras de estoma intestinal, sendo 44% do gênero feminino e 56% do gênero masculino, com faixa etária entre 20 a 80 anos. Observa-se que a maioria dos portadores de estomas intestinais está na faixa etária entre 50 e 70 anos.
Relatos de participantes da pesquisa relataram que, mesmo com idade e perfil produtivo para exercer algum tipo de profissão não conseguem emprego, pois acabam sendo discriminados por serem portadores de estomas intestinais, sendo assim excluídos do mercado de trabalho.
Conforme os resultados a maioria dos pacientes foi estomizada devido ao câncer de reto, adquirindo o estoma permanente por causa da amputação do reto. Esse resultado tem semelhança com os obtidos no estudo de Violin, Mathias e Uchimura, onde constataram que a neoplasia foi a maior causa de confecção do estoma de pessoas inscritas em um programa de atenção aos estomizados.
Para Cesaretti, as orientações da equipe interdisciplinar, principalmente do médico e do enfermeiro, sendo ele estomaterapeuta ou não, são de suma importância para que o paciente e seu familiar/cuidador deixem as dependências hospitalar preparado para manipular os cuidados com o estoma de maneira segura e correta. Visto que a pesquisa mostrou que a 92% recebem orientações, assim mesmo ainda e predominante à quantidade de pacientes com dificuldade de adaptação e autocuidado.
Nota-se que 36% dos pacientes contaram com a ajuda de um psicólogo após alta hospitalar, mas 64% não receberam apoio psicológico. O apoio psicológico é fundamental, pois se acredita que pacientes estomizados tendem a desenvolver depressão, devido às mudanças no organismo e à dificuldade de adaptação.
Constatou-se que 56% dos participantes sentem dificuldade em limpar a bolsa e retirar as fezes, 52% sentem dificuldades durante a troca do anel ou placa adesiva, 44% têm dificuldades no recorte da placa e na limpeza da pele ao redor do estoma e 28% têm dificuldade para trocar a bolsa coletora.
A maioria dos participantes tiveram complicações com o estoma após alta hospitalar, atingindo um índice de 76% de respostas positivas e 24% de respostas negativas por parte dos participantes. Para Schwartz, a assistência de enfermagem tem como objetivo detectar complicações com o estoma e a pele periestomal, estimular o autocuidado como a troca do dispositivo, higienização e cuidados com o estoma, e até mesmo treinar um familiar caso o paciente não tenha condições nesse momento, promovendo a reabilitação do individuo.
Observa-se que 60% dos participantes adquiriram dermatite ao redor do estoma, 36% tiveram hérnia na região abdominal próximo ao estoma, 16% tiveram prolapso (quando parte do intestino cai para fora do estoma devido a falta de cuidados). Este estudo apontou que a dermatite é a complicação que mais prevalece, provavelmente devido à dificuldade que os pacientes encontram nos cuidados com a pele periestomal e o corte incorreto da placa da bolsa coletora.
Os fatores psicológico e sexual são considerados os mais difíceis no processo de adaptação, com 64% e 60% dos apontamentos, respectivamente. O fator social aparece com 36%. Alguns participantes fizeram relatos justificando o apontamento desses fatores.
Percebe-se pelas declarações que os participantes apresentam sinais de depressão, tentam se ocultar da sociedade por causa da vergonha e da discriminação e deixam de se relacionar sexualmente devido à dificuldade de adaptação com o estoma.
Considerações finais
Conclui-se com este estudo que quase todos os participantes (92%) receberam orientações sobre cuidados com o estoma após alta hospitalar, mas pouco mais da metade (64%) não teve consulta com psicólogo após a cirurgia. A limpeza da bolsa e a retirada das fezes e a troca de anel ou placa adesiva estão entre as maiores dificuldades de cuidado com o estoma que os pacientes apresentam. Foram 76% dos participantes que tiveram alguma complicação, sendo que, 60% desses adquiriram dermatite ao redor do estoma. E as maiores dificuldades no processo de adaptação são de fatores psicológicos e sexuais.
Os resultados aqui apresentados são de um pequeno número de pacientes investigados em um curto período. Dessa forma, não necessariamente refletem a realidade da maioria da população estomizada nos diferentes estágios de evolução da sua doença.