Introdução
O lazer e o turismo - que se diga a tempo, destaca-se como uma das motivações mais significativas para as práticas de lazer - são os setores mais dinâmicos da economia.
Estima-se que o turismo gera 655 bilhões de dólares em receitas de impostos. Do produto nacional bruto de todo o mundo, 10,2% é produzido pelo turismo. As expectativas de crescimento no setor estão na ordem de 6,1% ao ano; 23% a mais do que a previsão de crescimento do restante da economia mundial. Em todo o mundo, existem aproximadamente 204 milhões de pessoas empregadas nesse setor, o que equivale a 10,6% da força de trabalho global.
Diante desse notável quadro de crescente expansão, o Brasil apresenta-se como uma das regiões com maior potencialidades de desenvolvimento no setor. Isso porque possui, reconhecidamente, algumas características que o colocam em uma posição privilegiada. Dentre essas características, menciona-se a exuberante beleza natural de seu território e o já consolidado imaginário popular sobre seu povo, sempre cordial e notavelmente hospitaleiro.
Contudo, esses elementos "potenciais" podem se tornar ainda mais notáveis se levarmos em consideração um promissor e recente ramo do turismo que se encontra em fase de franca expansão e que envolve parcelas cada vez mais amplas da sociedade: o ecoturismo.
O ecoturismo faz parte de um processo de ampliação no número de segmentos do mercado turístico que pode ser atribuído a tendência de superespecialização observada no setor. A principal peculiaridade desse processo é, fundamentalmente, a adjetivação das práticas turísticas tradicionais, criando assim, novas modalidades: turismo ecológico, turismo religioso, turismo cultural, turismo rural, turismo esportivo e etc.
As características dessas práticas esportivas permitem a justaposição e congregação de três rentáveis símbolos de consumo: o ecológico, o turístico e o esportivo. A justaposição entre esporte e turismo, e ainda mais especificamente entre os esportes na natureza e o ecoturismo, pode permitir um considerável incremento na economia desses segmentos.
O crescimento dos esportes na natureza - ainda mais quando consideramos sua relação com o turismo ecológico - está vinculado as recentes aspirações de preservação e retorno à natureza. Ambos os setores - turismo ecológico e esportes na natureza - parecem estar atrelados as recentes fórmulas ambientalistas expressas nos discursos de desenvolvimento sustentável.
O vôo livre no Rio de Janeiro
O vôo livre é um esporte aeronáutico ou um aerodesporto, que compreende duas modalidades: a asa delta e o pára-pente. Essas atividades começaram a se desenvolver na cidade do Rio de Janeiro desde os meados de 1974. Tudo indica que foi o Rio de Janeiro o porto de entrada para esses esportes no Brasil, apesar da ausência de estudos históricos que o demonstrem com mais precisão.
O vôo livre, de uma maneira geral, está submetido às regulamentações do Departamento de Aviação Civil (DAC) através do "regulamento brasileiro de homologação aeronáutica número 104". Todo o praticante de vôo livre, portanto, tem uma habilitação emitida pelo próprio DAC, que o autoriza, oficialmente, a praticar o esporte.
Estas autorizações estão subdivididas em seis níveis: I (aluno), II (novato), III (intermediário), IV (avançado), V (máster) e instrutor. Logo, para se ter essa autorização, o praticante interessado deverá passar por um curso, oferecido por instrutores devidamente habilitados pelo DAC e credenciados junto a ABVL. No Rio de Janeiro, contabiliza-se um total de 36 instrutores credenciados, sendo 13 de asa delta e 23 de pára-pente.
Alguns instrutores que fazem os vôos duplos, chegam a faturar R$20.000 em apenas um mês. Do total de vôos da rampa de salto da cidade, aproximadamente 80% são de vôos duplos.
Interessante destacar que a realização de vôo livre com caráter comercial é proibida. Contudo, a lei prevê a realização de vôos duplos para instrução. Logo, todos os vôos duplos que se realizam são, para efeitos legais, vôos de instrução.
A difusão desses esportes pode ser atribuída ao aumento da qualidade dos equipamentos produzidos no país, que além de aumentarem a segurança e durabilidade do material, permitem algumas facilidades na sua aquisição, a começar pelo barateamento dos preços e facilidades na forma de pagamento que inclui aí financiamentos e parcelamentos.
As preocupações com a segurança dos praticantes e com sua fiscalização se acentuaram após um acidente ocorrido em 2003. Nos dias de hoje, esta preocupação se estende até o local de partida dos vôos: a rampa de salto. Antes de ser autorizada à entrada do praticante na rampa, um fiscal verifica se a autorização do departamento de aviação civil está em ordem, assim como a atualização da vistoria.
Considerações finais
O Rio de Janeiro, já prestigiado roteiro turístico nacional e internacional, talvez agora já possa se candidatar como o mais novo polo de turismo ecológico e esportivo do Brasil. Uma cidade com notável potencial e apelo para o turismo em suas diversas manifestações.
Ainda não dispomos de dados acerca do perfil dos praticantes de vôo livre. Mas é certo que há uma predominância quase absoluta de pessoas provenientes dos estratos mais abastados da sociedade. Ainda que a possibilidade de prática do vôo livre por camadas mais populares, tenha aumentado por conta das facilidades de financiamento oferecidas pelos fabricantes além da consolidação do pára-pente no âmbito do vôo livre tenha facilitado o acesso das camadas mais populares a esses esportes, seu acesso ainda é praticamente exclusivo a classe média alta.
A diferença no preço entre os equipamentos de asa delta e de pára-pente para a prática do vôo livre é significativa e o fato do pára-pente não requerer um carro para o transporte dos equipamentos, que pode ser feito até mesmo de ônibus, é realmente um elemento facilitador. Mas isso ainda é pouco e é muito provável que o vôo livre continue circunscrito a uma camada muito restrita da população.