Dois dias antes da cerimônia de abertura da I edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas teve início os torneios de futebol masculino e feminino. Ambos estão sendo disputados de acordo com as regras determinadas pela FIFA e tratados com o maior cuidado pela organização que providenciou juízes, bandeirinhas, gandulas, fardamento esportivo completo, além dos jogos serem realizados na recém-reformada Arena Nilton Santos, ou nos campos do batalhão do exército e da Universidade Luterana do Brasil, todos em ótimas condições para a prática esportiva.
Participam dos torneios etnias brasileiras e selecionados nacionais formados por diferentes povos como é o caso de Peru, Paraguai e Bolívia, que, inclusive jogam com uniformes inspirados na seleção de futebol profissional de seus países. Como apuramos em nossas observações, as delegações brasileiras também passam por um processo de triagem, geralmente a partir de campeonatos disputados entre aldeias das próprias etnias.
Misturando-se com estes elementos que caracterizam o futebol profissional estão outros, comuns a própria cultura indígena: plumagens, pinturas, ornamentos, danças e gritos de guerra ao adentrar ao campo, mas também expressões corporais, formas de torcer, de sentir a derrota e de comemorar a vitória, na grande maioria das vezes, com cânticos tradicionais e coreografias.
A cultura do corpo é diferente: mesmo durante o jogo, no banco de reservas, os Pataxós passam tranquilamente um cachimbo com ervas medicinais.
Durante os jogos que acompanhamos até o momento prevalece o clima de amizade e de respeito entre os jogadores participantes, sobretudo em jogos entre povos indígenas brasileiros, mas nem sempre com outros países, como vimos no jogo entre Terena 2 x 0 Bolívia. É importante celebrar, mas no futebol ninguém gosta de perder.
Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre futebol e Modalidades Lúdicas – LUDENS – USP